Questões de Português retiradas das provas anteriores do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM
Usei uma conexão via computador, pela primeira vez, em 1988. Morava na França, trabalhando como correspondente da Folha de S. Paulo e concordei em utilizar um laptop Toshiba T1000, equipado com um modem de 1 200 bauds, para transmitir minhas reportagens. O texto entrava direto nos terminais da redação, digitalizado, segundos depois de composto na tela de cristal líquido do pequeno Toshiba. O laptop sequer tinha disco rígido, era tudo comandado por disquete e gravado em disquete. Permitiu-me aposentar não só a Olivetti como o vetusto telex de casa. Em seguida, eu pegava o telefone e chamava a redação para saber se o texto “entrara” bem. Até que, um dia, o engenheiro de informática do jornal me disse que, dali em diante, não precisaríamos usar mais a ligação telefônica internacional tradicional, muito cara, para saber se o texto havia chegado corretamente ou tirar dúvidas sobre o manuseio do computador. Poderíamos fazer aquilo via chat, uma conversa textual na tela do próprio laptop. Essa maravilha seria possível por meio de um programinha de conversação.
SPYE, J. Conectado. São Paulo: Martins Fontes, 2006 (adaptado).
O texto apresenta uma situação de uso das tecnologias de comunicação e informação por um jornalista. A mudança do uso do telefone para o uso do chat evidencia a transformação na dinâmica
A) do trabalho, em função das tecnologias de comunicação e informação.
B) do acesso às informações divulgadas pela mídia digital aos internautas.
C) da divulgação das notícias pela mídia digital e os impactos provocados no cotidiano.
D) da valorização de profissionais da imprensa com a chegada das mídias digitais.
E) dos avanços na área de telejornalismo na ascensão da imprensa internacional.
No processo de modernização apresentado na tirinha, Mafalda depara-se com um contraponto entre
A) o domínio dos modos de produção e a geração de novas ferramentas com a tecnologia de informação e comunicação.
B) o acompanhamento das mudanças na sociedade e o surgimento de novas opções de vida e trabalho com a cibernética.
C) a constatação do avanço da tecnologia e a proposição de reprodução de velhas práticas com novas máquinas.
D) a apresentação de novas perspectivas de vida e trabalho para a mulher com os avanços das tecnologias de informação.
E) a aplicação da cibernética e o descontentamento com a passividade do cotidiano das mulheres no trabalho de corte e costura.
A rua
Bem sei que, muitas vezes,
O único remédio
É adiar tudo.
É adiar a sede, a fome, a viagem,
A dívida, o divertimento,
O pedido de emprego, ou a própria alegria.
A esperança é também uma forma
De contínuo adiamento.
Sei que é preciso prestigiar a esperança,
Numa sala de espera.
Mas sei também que espera significa luta e não, apenas,
Esperança sentada.
Não abdicação diante da vida.
A esperança
Nunca é a forma burguesa, sentada e tranquila da espera.
Nunca é figura de mulher
Do quadro antigo. Sentada, dando milho aos pombos.
RICARDO, C. Disponível em: www.revista.agulha.nom.br. Acesso em: 2 jan. 2012.
O poema de Cassiano Ricardo insere-se no Modernismo brasileiro. O autor metaforiza a crença do sujeito lírico numa relação entre o homem e seu tempo marcada por
A) um olhar de resignação perante as dificuldades materiais e psicológicas da vida.
B) uma ideia de que a esperança do povo brasileiro está vinculada ao sofrimento e às privações.
C) uma posição em que louva a esperança passiva para que ocorram mudanças sociais.
D) um estado de inércia e de melancolia motivado pelo tempo passado "numa sala de espera".
E) uma atitude de perseverança e coragem no contexto de estagnação histórica e social.
TEXTO I
Poema de sete faces
Mundo mundo vasto mundo,
Se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
ANDRADE, C. D. Antologia poética. Rio de Janeiro: Record, 2001 (fragmento).
TEXTO II
CDA (imitado)
Ó vida, triste vida!
Se eu me chamasse Aparecida
dava na mesma.
FONTELA, O. Poesia reunida. São Paulo: Cosac Naify; Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.
Orides Fontela intitula seu poema CDA, sigla de Carlos Drummond de Andrade, e entre parênteses indica "imitado" porque, como nos versos de Drummond,
A) apresenta o receio de colocar os dramas pessoais no mundo vasto.
B) expõe o egocentrismo de sentir o coração maior que o mundo.
C) aponta a insuficiência da poesia para solucionar os problemas da vida.
D) adota tom melancólico para evidenciar a desesperança com a vida.
E) invoca a tristeza da vida para potencializar a ineficácia da rima.
— É o diabo!... praguejava entre dentes o brutalhão, enquanto atravessava o corredor ao lado do Conselheiro, enfiando às pressas o seu inseparável sobretudo de casimira alvadia. — É o diabo! Esta menina já devia ter casado!
— Disso sei eu... balbuciou o outro. — E não é por falta de esforços de minha parte; creia!
— Diabo! Faz lástima que um organismo tão rico e tão bom para procriar, se sacrifique desse modo! Enfim — ainda não é tarde; mas, se ela não se casar quanto antes — hum... hum!... Não respondo pelo resto!
— Então o Doutor acha que...?
Lobão inflamou-se: Oh! o Conselheiro não podia imaginar o que eram aqueles temperamentozinhos impressionáveis!... eram terríveis, eram violentos, quando alguém tentava contrariá-los! Não pediam — exigiam — reclamavam!
AZEVEDO, A. O homem. Belo Horizonte: UFMG, 2003 (fragmento).
O romance O homem, de Aluísio Azevedo, insere-se no contexto do Naturalismo, marcado pela visão do cientificismo. No fragmento, essa concepção aplicada à mulher define-se por uma
A) conivência com relação à rejeição feminina de assumir um casamento arranjado pelo pai.
B) caracterização da personagem feminina como um estereótipo da mulher sensual e misteriosa.
C) convicção de que a mulher é um organismo frágil e condicionado por seu ciclo reprodutivo.
D) submissão da personagem feminina a um processo que a infantiliza e limita intelectualmente.
E) incapacidade de resistir às pressões socialmente impostas, representadas pelo pai e pelo médico.
A escolha de uma forma teatral implica a escolha de um tipo de teatralidade, de um estatuto de ficção com relação à realidade. A teatralidade dispõe de meios específicos para transmitir uma cultura-fonte a um público-alvo; é sob esta única condição que temos o direito de falar em interculturalidade teatral.
PAVIS, P. O teatro no cruzam ento de culturas. São Paulo: Perspectiva, 2008.
A partir do texto, o meio especificamente cênico utilizado para transmitir uma cultura estrangeira implica
A) buscar nos gestos, compreender e explicitar conceitos ou comportamentos.
B) procurar na filosofia a tradução verdadeira daquela cultura.
C) apresentar o videodocumentário sobre a culturafonte durante o espetáculo.
D) eliminar a distância temporal ou espacial entre o espetáculo e a cultura-fonte.
E) empregar um elenco constituído de atores provenientes da cultura-fonte.
Rompendo com as paredes retas e com a geometrização clássica acadêmica, os arquitetos modernistas desenvolveram seus projetos graças também a um momento de industrialização e modernização do Brasil. Observando a imagem apresentada, analisa-se que
A) Niemeyer projetou os edifícios de Brasília com a intenção de impor a arquitetura sobre a natureza, seguindo os princípios da arquitetura moderna.
B) o Palácio da Alvorada, em Brasília, na posição horizontal permite fazer uma integração do edifício com a paisagem do cerrado e o horizonte, um conceito de vanguarda para a arquitetura da época.
C) Niemeyer projetou o Palácio da Alvorada com colunas de linhas quebradas e rígidas, com o propósito de unir as tendências recentes da arquitetura moderna, criando um novo estilo.
D) os prédios de Brasília são elevados e sustentados por colunas, deixando um espaço livre sob o edifício, com o objetivo de separar o ambiente externo do interno, trazendo mais harmonia à obra.
E) Niemeyer projetou os edifícios de Brasília com espaços amplos, colunas curvas, janelas largas e grades de proteção, separando os jardins e praças da área útil do prédio.
Sambinha
Vêm duas costureirinhas pela rua das Palmeiras.
Afobadas braços dados depressinha
Bonitas, Senhor! que até dão vontade pros homens da rua.
As costureirinhas vão explorando perigos...
Vestido é de seda.
Roupa-branca é de morim.
Falando conversas fiadas
As duas costureirinhas passam por mim.
— Você vai?
— Não vou não!
Parece que a rua parou pra escutá-las.
Nem trilhos sapecas
Jogam mais bondes um pro outro.
E o Sol da tardinha de abril
Espia entre as pálpebras sapiroquentas de duas nuvens.
As nuvens são vermelhas.
A tardinha cor-de-rosa.
Fiquei querendo bem aquelas duas costureirinhas...
Fizeram-me peito batendo
Tão bonitas, tão modernas, tão brasileiras!
Isto é...
Uma era ítalo-brasileira.
Outra era áfrico-brasileira.
Uma era branca.
Outra era preta.
ANDRADE, M. Os melhores poemas. Sao Paulo: Global, 1988.
Os poetas do Modernismo, sobretudo em sua primeira fase, procuraram incorporar a oralidade ao fazer poético, como parte de seu projeto de configuração de uma identidade linguística e nacional. No poema de Mário de Andrade esse projeto revela-se, pois
A) o poema capta uma cena do cotidiano — o caminhar de duas costureirinhas pela rua das Palmeiras — mas o andamento dos versos é truncado, o que faz com que o evento perca a naturalidade.
B) a sensibilidade do eu poético parece captar o movimento dançante das costureirinhas — depressinha — que, em última instância, representam um Brasil de "todas as cores".
C) o excesso de liberdade usado pelo poeta ao desrespeitar regras gramaticais, como as de pontuação, prejudica a compreensão do poema.
D) a sensibilidade do artista não escapa do viés machista que marcava a sociedade do início do século XX, machismo expresso em "que até dão vontade pros homens da rua".
E) o eu poético usa de ironia ao dizer da emoção de ver moças "tão modernas, tão brasileiras", pois faz questão de afirmar as origens africana e italiana das mesmas.
Conflitos de interação ajudam a promover o efeito de humor. No cartum, o recurso empregado para promover esse efeito é a
A) intertextualidade, sugerida pelos traços identificadores do homem urbano e do homem rural.
B) ambiguidade, produzida pela interpretação da fala do locutor a partir da variedade do interlocutor.
C) conotação, atribuidora de sentidos figurados a palavras relativas às ações e aos seres.
D) negação enfática, elaborada para reforçar o lamento do interlocutor pela perda da estrada.
E) pergunta retórica, usada pelo motorista para estabelecer interação com o homem do campo.
Pode chegar de mansinho, como é costume por ali, e observar sem pressa cada detalhe da estação ferroviária de Mariana. Repare na arquitetura recém-revitalizada do casarão, e como os detalhes em madeira branca, as delicadas arandelas de luzes amarelas e os elementos barrocos da torre já começam a dar o gostinho da viagem aguardada. Vindo lá de longe, o apito estridente anuncia que logo, logo o cenário estará completo para a partida. E não tarda para o trem de fato surgir. Pequenino a princípio, mas de repente, em toda aquela imensidão que desliza pelos trilhos. Arrancando sorrisos e deixando boquiaberto até o mais desconfiado dos mineiros.
TIUSSU, B. Raízes m ineiras. Disponível em: www.estadao.com.br. Acesso em: 15 nov. 2011 (fragmento).
A leitura do trecho mostra que textos jornalísticos produzidos em determinados gêneros mobilizam recursos linguísticos com o objetivo de conduzir seu público-alvo a aceitar suas ideias. Para envolver o leitor no retrato que faz da cidade, a autora
A) inicia o texto com a informação mais importante a ser conhecida, a estação de trem de Mariana.
B) descreve de forma parcial e objetiva a estação de trem da cidade, seus detalhes e características.
C) apresenta com cuidado e precisão os recursos da cidade, sua infraestrutura e singularidade.
D) faz uma crítica indireta à desconfiança dos mineiros, mostrando conhecimento do tema.
E) dirige-se a ele por meio de verbos e expressões verbais, convidando-o a partilhar das belezas do local.
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