Questões de Português retiradas das provas anteriores do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM
Além da Revolução da Informação
O impacto da Revolução da Informação está apenas começando. Mas a força motriz desse impacto não é a informática, a inteligência artificial, o efeito dos computadores sobre a tomada de decisões ou a elaboração de políticas ou de estratégias. É algo que praticamente ninguém previu, nem mesmo se falava há 10 ou 15 anos: o comércio eletrônico — o aparecimento explosivo da internet como um canal importante, talvez principal, de distribuição mundial de produtos, serviços e, surpreendentemente, de empregos de nível gerencial. Essa nova realidade está modificando profundamente economias, mercados e estruturas setoriais , os produtos e serviços e seu fluxo, a segmentação, os valores e o comportamento dos consumidores, o mercado de trabalho.
O impacto, porém, pode ser ainda maior nas sociedades e nas políticas empresariais e, acima de tudo, na maneira como encaramos o mundo e nós mesmos dentro dele. O impacto psicológico da Revolução da Informação, como o da Revolução Industrial, foi enorme. Talvez tenha sido mais forte na maneira como as crianças aprendem. Já aos 4 anos (e às vezes até antes), as crianças desenvolvem habilidades de computação, logo ultrapassando seus pais. Os computadores são seus brinquedos e suas ferramentas de aprendizado. Daqui a 50 anos, talvez concluamos que não houve nenhuma crise educacional no mundo — apenas ocorreu uma incongruência crescente entre a maneira como as escolas do século XX ensinavam e a maneira como as crianças do fim do século XX aprendiam.
DRUCKER, P. O melhor de Peter Drucker: obra completa. São Paulo: Nobel, 2002.
O artigo apresenta uma reflexão sobre a Revolução da Informação, que, assim como a Revolução Industrial, provocou impactos significativos nas sociedades contemporâneas. Ao tratar da Revolução da Informação, o autor enfatiza que
A) o comércio eletrônico é um dos canais mais importantes dessa revolução.
B) o computador desenvolve na criança uma inteligência maior que a dos pais.
C) o aumento no número de empregos via internet é uma realidade atualmente.
D) o colapso educacional é fruto de uma incongruência no ensino do século XX.
E) o advento da Revolução da Informação causará impactos nos próximos 50 anos.
Ai se sêsse
Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém se acontecesse
De São Pedro não abrisse
A porta do céu e fosse
Te dizer qualquer tulice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse
Pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nois dois ficasse
Tarvês que nois dois caísse
E o céu furado arriasse
E as virgi toda fugisse
ZÉ DA LUZ. Cordel do Fogo Encantado. Recife: Álbum de estúdio, 2001.
O poema foi construído com formas do português não padrão, tais como "juntim", "nois", "tarvês". Essas formas legitimam-se na construção do texto, pois
A) revelam o bom humor do eu lírico do poema.
B) estão presentes na língua e na identidade popular.
C) revelam as escolhas de um poeta não escolarizado.
D) tornam a leitura fácil de entender para a maioria dos brasileiros.
E) compõem um conjunto de estruturas linguísticas inovadoras.
Perder a tramontana
A expressão ideal para falar de desorientados e outras
palavras de perder a cabeça
É perder o norte, desorientar-se. Ao pé da letra, "perder a tramontana" significa deixar de ver a estrela polar, em italiano stella tramontana, situada do outro lado dos montes, que guiava os marinheiros antigos em suas viagens desbravadoras.
Deixar de ver a tramontana era sinônimo de desorientação. Sim, porque, para eles, valia mais o céu estrelado que a terra. O Sul era região desconhecida, prevista; já o Norte tinha como referência no firmamento um ponto luminoso conhecido como a estrela Polar, uma espécie de farol para os navegantes do Mediterrâneo, sobretudo os genoveses e os venezianos. Na linguagem deles, ela ficava transmontes, para além dos montes, os Alpes. Perdê-la de vista era perder a tramontana, perder o Norte.
No mundo de hoje, sujeito a tantas pressões, muita gente não resiste a elas e entra em parafuso. Além de perder as estribeiras, perde a tramontana...
COTRIM, M. Língua Portuguesa, n. 15, jan. 2007.
Nesse texto, o autor remonta às origens da expressão "perder a tramontana". Ao tratar do significado dessa expressão, utilizando a função referencial da linguagem, o autor busca
A) apresentar seus indícios subjetivos.
B) convencer o leitor a utilizá-la.
C) expor dados reais de seu emprego.
D) explorar sua dimensão estética.
E) criticar sua origem conceitual.
Telecommuting redefine o tradicional entendimento sobre o espaço de trabalho. Atualmente, as organizações estão se focando em novos valores, tais como, inovações, satisfação, responsabilidades, resultados e ambiente de trabalho familiar. A alternativa do telecommuting complementa esses princípios e oferece flexibilidade aos patrões e empregados. É um conceito novo que, a cada dia, ganha mais força ao redor do mundo. Grandes empresas escolheram o trabalho de telecommuting pelas facilidades que ele gera para o empregador. A implantação do telecommuting determina regras para se trabalhar em casa em dias específicos da semana e nos, demais dias, trabalhar no escritório. O local de trabalho pode ser a casa ou, temporariamente, por motivo de viagem, outros escritórios.
FERREIRA JR., J.C. Disponível em: www.ccuec.unicamp.br. Acesso em: 1 ago. 2012 (adaptado)
Com o advento das novas tecnologias, a sociedade tem vivenciado mudanças de paradigmas em vários setores. Nesse sentido, o telecommuting traz novidades para o mundo do trabalho porque proporciona prioritariamente o(a)
A) aumento da produtividade do empregado.
B) equilíbrio entre vida pessoal e profissional do trabalhador.
C) fortalecimento da relação entre empregador e empregado.
D) participação do profissional nas decisões da organização.
E) maleabilidade dos locais de atuação do profissional da empresa.
Nesse texto, associam-se recursos verbais e não verbais na busca de mudar o comportamento das pessoas quanto a uma questão de saúde pública. No cartaz, essa associação é ressaltada no(a)
A)
destaque dado ao laço, símbolo do combate à aids, seguido da frase "Use camisinha".
Mudança linguística
Ataliba de Castilho, professor de língua portuguesa da USP, explica que o internetês é parte da metamorfose natural da língua.
— Com a internet, a linguagem segue o caminho dos fenômenos da mudança, como o que ocorreu com "você", que se tornou o pronome átono "cê". Agora, o interneteiro pode ajudar a reduzir os excessos da ortografia, e bem sabemos que são muitas. Por que o acento gráfico é tão importante assim para a escrita? Já tivemos no Brasil momentos até mais exacerbados por acentos e dispensamos muitos deles. Como toda palavra é contextualizada pelo falante, podemos dispensar ainda muitos outros. O interneteiro mostra um caminho, pois faz um casamento curioso entre oralidade e escrituralidade. O internetês pode, no futuro, até tornar a comunicação mais eficiente. Ou evoluir para um jargão complexo, que, em vez de aproximar as pessoas em menor tempo, estimule o isolamento dos iniciados e a exclusão dos leigos.
Para Castilho, no entanto, não será uma reforma ortográfica que fará a mudança de que precisamos na língua. Será a internet. O jeito eh tc e esperar pra ver?
Disponível em: http://revistalingua.com.br. Acesso em: 3 jun. 2015 (adaptado).
Na entrevista, o fragmento “O jeito eh tc e esperar pra ver?" tem por objetivo
A) ilustrar a linguagem de usuários da internet que poderá promover alterações de grafias.
B) mostrar os perigos da linguagem da internet como potencialização de dificuldades de escrita.
C)
evidenciar uma forma de exclusão social para as pessoas com baixa proficiência escrita.
Em primeiro lugar gostaria de manifestar os meus agradecimentos pela honra de vir outra vez à Galiza e conversar não só com os antigos colegas, alguns dos quais fazem parte da mesa, mas também com novos colegas, que pertencem à nova geração, em cujas mãos, com toda certeza, está também o destino do Galego na Galiza, e principalmente o destino do Galego incorporado à grande família lusófona.
E, portanto, é com muito prazer que teço algumas considerações sobre o tema apresentado. Escolhi como tema como os fundadores da Academia Brasileira de Letras viam a língua portuguesa no seu tempo. Como sabem, a nossa Academia, fundada em 1897, está agora completando 110 anos, foi organizada por uma reunião de jornalistas, literatos, poetas que se reuniam na secretaria da Revista Brasileira, dirigida por um crítico literário e por um literato chamado José Veríssimo, natural do Pará, e desse entusiasmo saiu a ideia de se criar a Academia Brasileira, depois anexada ao seu título: Academia Brasileira de Letras.
Nesse sentido, Machado de Assis, que foi o primeiro presidente desde a sua inauguração até a data de sua morte, em 1908, imaginava que a nossa Academia deveria ser uma academia de Letras, portanto, de literatos.
BECHARA, E. Disponível em: www.academiagalega.org. Acesso em: 31 jul. 2012.
No trecho da palestra proferida por Evanildo Bechara, na Academia Galega da Língua Portuguesa, verifica-se o uso de estruturas gramaticais típicas da norma padrão da língua. Esse uso
A) torna a fala inacessível aos não especialistas no assunto abordado.
B) contribui para a clareza e a organização da fala no nível de formalidade esperado para a situação.
C) atribui à palestra características linguísticas restritas à modalidade escrita da língua portuguesa.
D) dificulta a compreensão do auditório para preservar o caráter rebuscado da fala.
E) evidencia distanciamento entre o palestrante e o auditório para atender os objetivos do gênero palestra.
Famigerado
Com arranco, [o sertanejo] calou-se. Como arrependido de ter começado assim, de evidente. Contra que aí estava com o fígado em más margens; pensava, pensava. Cabismeditado. Do que, se resolveu. Levantou as feições. Se é que se riu: aquela crueldade de dentes. Encarar, não me encarava, só se fito à meia esguelha. Latejava-lhe um orgulho indeciso. Redigiu seu monologar.
O que frouxo falava: de outras, diversas pessoas e coisas, da Serra, do São Ão, travados assuntos, insequentes, como dificultação. A conversa era para teias de aranha. Eu tinha de entender-lhe as mínimas entonações, seguir seus propósitos e silêncios. Assim no fechar-se com o jogo, sonso, no me iludir, ele enigmava. E, pá:
— Vosmecê agora me faça a boa obra de querer me ensinar o que é mesmo que é: fasmisgerado... faz-me-gerado... falmisgeraldo... familhas-gerado...?
ROSA, J. G. Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
A linguagem peculiar é um dos aspectos que conferem a Guimarães Rosa um lugar de destaque na literatura brasileira. No fragmento lido, a tensão entre a personagem e o narrador se estabelece porque
A) o narrador se cala, pensa e monologa, tentando assim evitar a perigosa pergunta de seu interlocutor.
B) o sertanejo emprega um discurso cifrado, com enigmas, como se vê em “a conversa era para teias de aranha".
C) entre os dois homens cria-se uma comunicação impossível, decorrente de suas diferenças socioculturais.
D) a fala do sertanejo é interrompida pelo gesto de impaciência do narrador, decidido a mudar o assunto da conversa.
E) a palavra desconhecida adquire o poder de gerar conflito e separar as personagens em planos incomunicáveis.
Como estamos "Era Digital", foi necessário rever os velhos ditados existentes e adaptá-los à nova realidade.
Veja abaixo...
1. A pressa é inimiga da conexão.
2. Amigos, amigos, senhas à parte.
3. Para bom provedor uma senha basta.
4. Não adianta chorar sobre arquivo deletado.
5. Mais vale um arquivo no HD do que dois baixando.
6. Quem clica seus males multiplica.
7. Quem semeia e-mails, colhe spams.
8. Os fins justificam os e-mails.
Disponível em: www.abusar.org.br. Acesso em: 20 maio 2015 (adaptado).
No texto, há uma reinterpretação de ditados populares com o uso de termos da informática. Essa reinterpretação
A) torna o texto apropriado para profissionais da informática.
B)
atribui ao texto um caráter humorístico.
Em 1866, tendo encerrado seus estudos na Escola de Belas Artes, em Paris, Pedro Américo ofereceu a tela A Carioca ao imperador Pedro II, em reconhecimento ao seu mecenas. O nu feminino obedecia aos cânones da grande arte e pretendia ser uma alegoria feminina da nacionalidade. A tela, entretanto, foi recusada por imoral e licenciosa: mesmo não fugindo à regra oitocentista relativa à nudez na obra de arte, A Carioca não pôde, portanto, ser absorvida de imediato. A sensualidade tangível da figura feminina, próxima do orientalismo tão em voga na Europa, confrontou-se não somente com os limites morais, mas também com a orientação estética e cultural do Império. O que chocara mais: a nudez frontal ou um nu tão descolado do que se desejava como nudez nacional aceitável, por exemplo, aquela das românticas figuras indígenas? A Carioca oferecia um corpo simultaneamente ideal e obsceno: o alto — uma beleza imaterial — e o baixo — uma carnalidade excessiva. Sugeria uma mistura de estilos que, sem romper com a regra do decoro artístico, insinuava na tela algo inadequado ao repertório simbólico oficial. A exótica morena, que não é índia — nem mulata ou negra — poderia representar uma visualidade feminina brasileira e desfrutar de um lugar de destaque no imaginário da nossa "monarquia tropical"?
Disponível em: http://anpuh.org.br. Acesso em: 20 maio 2015.
O texto revela que a aceitação da representação do belo na obra de arte está condicionada à
A) incorporação de grandes correntes teóricas de uma época, conferindo legitimidade ao trabalho do artista.
B) atemporalidade do tema abordado pelo artista, garantindo perenidade ao objeto de arte então elaborado.
C) inserção da produção artística em um projeto estético e ideológico determinado por fatores externos.
D) apropriação que o pintor faz dos grandes temas universais já recorrentes em uma vertente artística.
E) assimilação de técnicas e recursos já utilizados por movimentos anteriores que trataram da temática.
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