Questões de Português retiradas das provas anteriores do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM
O nome do inseto pirilampo (vaga-lume) tem uma interessante certidão de nascimento. De repente, no fim do século XVII, os poetas de Lisboa repararam que não podiam cantar o inseto luminoso, apesar de ele ser um manancial de metáforas, pois possuía um nome “indecoroso” que não podia ser “usado em papéis sérios”: caga-lume. Foi então que o dicionarista Raphael Bluteau inventou a nova palavra, pirilampo, a partir do grego pyr, significando 'fogo’, e lampas, 'candeia’.
FERREIRA, M. B. Caminhos do português: exposição comemorativa do Ano Europeu das Línguas. Portugal: Biblioteca Nacional, 2001 (adaptado).
O texto descreve a mudança ocorrida na nomeação do inseto, por questões de tabu linguístico. Esse tabu diz respeito à
A) recuperação histórica do significado.
B) ampliação do sentido de uma palavra.
C) produção imprópria de poetas portugueses.
D) denominação científica com base em termos gregos.
E) restrição ao uso de um vocábulo pouco aceito socialmente.
Sem acessórios nem som
Escrever só para me livrar
de escrever.
Escrever sem ver, com riscos
sentindo falta dos acompanhamentos
com as mesmas lesmas
e figuras sem força de expressão.
Mas tudo desafina:
o pensamento pesa
tanto quanto o corpo
enquanto corto os conectivos
corto as palavras rentes
com tesoura de jardim
cega e bruta
com facão de mato.
Mas a marca deste corte
tem que ficar
nas palavras que sobraram.
Qualquer coisa do que desapareceu
continuou nas margens, nos talos
no atalho aberto a talhe de foice
no caminho de rato.
FREITAS FILHO, A. Máquina de escrever: poesia reunida e revista. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.
Nesse texto, a reflexão sobre o processo criativo aponta para uma concepção de atividade poética que põe em evidência o(a)
A) angustiante necessidade de produção, presente em “Escrever só para me livrar/ de escrever”.
B) imprevisível percurso da composição, presente em “no atalho aberto a talhe de foice/ no caminho de rato”.
C) agressivo trabalho de supressão, presente em “corto as palavras rentes/ com tesoura dejardim/ cega e bruta”.
D) inevitável frustração diante do poema, presente em “Mas tudo desafina:/ o pensamento pesa/ tanto quanto o corpo”.
E) conflituosa relação com a inspiração, presente em “sentindo falta dos acompanhamentos/ e figuras sem força de expressão”.
Galinha cega
O dono correu atrás de sua branquinha, agarrou-a, lhe examinou os olhos. Estavam direitinhos, graças a Deus, e muito pretos. Soltou-a no terreiro e lhe atirou mais milho. A galinha continuou a bicar o chão desorientada. Atirou ainda mais, com paciência, até que ela se fartasse. Mas não conseguiu com o gasto de milho, de que as outras se aproveitaram, atinar com a origem daquela desorientação. Que é que seria aquilo, meu Deus do céu? Se fosse efeito de uma pedrada na cabeça e se soubesse quem havia mandado a pedra, algum moleque da vizinhança, aí... Nem por sombra imaginou que era a cegueira irremediável que principiava.
Também a galinha, coitada, não compreendia nada, absolutamente nada daquilo. Por que não vinham mais os dias luminosos em que procurava a sombra das pitangueiras? Sentia ainda o calor do sol, mas tudo quase sempre tão escuro. Quase que já não sabia onde é que estava a luz, onde é que estava a sombra.
GUIMARAENS, J. A. Contos e novelas. Rio de Janeiro: Imago, 1976 (fragmento)
>A) captura de elementos da vida rural, de feições peculiares.
B) caracterização de um quintal de sítio, espaço de descobertas.
C) confusão intencional da marcação do tempo, centrado na infância.
D) apropriação de diferentes pontos de vista, incorporados afetivamente.
E) fragmentação do conflito gerador, distendido como apoio à emotividade.
Querido diário
Hoje topei com alguns conhecidos meus
Me dão bom-dia, cheios de carinho
Dizem para eu ter muita luz, ficar com Deus
Eles têm pena de eu viver sozinho [...]
Hoje o inimigo veio me espreitar
Armou tocaia lá na curva do rio
Trouxe um porrete a mó de me quebrar
Mas eu não quebro porque sou macio, viu
HOLANDA, C. B. Chico. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2013 (fragmento).
Uma característica do gênero diário que aparece na letra da canção de Chico Buarque é o(a)
A) diálogo com interlocutores próximos.
B) recorrência de verbos no infinitivo.
C) predominância de tom poético.
D) uso de rimas na composição.
E) narrativa autorreflexiva.
Pérolas absolutas
Há, no seio de uma ostra, um movimento — ainda que imperceptível. Qualquer coisa imiscuiu-se pela fissura, uma partícula qualquer, diminuta e invisível. Venceu as paredes lacradas, que se fecham como a boca que tem medo de deixar escapar um segredo. Venceu. E agora penetra o núcleo da ostra, contaminando-lhe a própria substância. A ostra reage, imediatamente. E começa a secretar o nácar. É um mecanismo de defesa, uma tentativa de purificação contra a partícula invasora. Com uma paciência de fundo de mar, a ostra profanada continua seu trabalho incansável, secretando por anos a fio o nácar que aos poucos se vai solidificando. É dessa solidificação que nascem as pérolas.
As pérolas são, assim, o resultado de uma contaminação. A arte por vezes também. A arte é quase sempre a transformação da dor. [...] Escrever é preciso. É preciso continuar secretando o nácar, formar a pérola que talvez seja imperfeita, que talvez jamais seja encontrada e viva para sempre encerrada no fundo do mar. Talvez estas, as pérolas esquecidas, jamais achadas, as pérolas intocadas e por isso absolutas em si mesmas, guardem em si uma parcela faiscante da eternidade.
SEIXAS, H. Uma ilha chamada livro. Rio de Janeiro: Record, 2009 (fragmento).
>A) reforça o valor do sofrimento e do esquecimento para o processo criativo.
B) ilustra o conflito entre a procura do novo e a rejeição ao elemento exótico.
C) concebe a criação literária como trabalho progressivo e de autoconhecimento.
D) expressa a ideia de atividade poética como experiência anônima e involuntária.
E) destaca o efeito introspectivo gerado pelo contato com o inusitado e com o desconhecido.
Nesse texto, a combinação de elementos verbais e não verbais configura-se como estratégia argumentativa para
A) manifestar a preocupação do governo com a segurança dos pedestres.
B) associar a utilização do celular às ocorrências de atropelamento de crianças.
C) orientar pedestres e motoristas quanto à utilização responsável do telefone móvel.
D) influenciar o comportamento de motoristas em relação ao uso de celular no trânsito.
E) alertar a população para os riscos da falta de atenção no trânsito das grandes cidades.
Centro das atenções em um planeta cada vez mais interconectado, a Floresta Amazônica expõe inúmeros dilemas. Um dos mais candentes diz respeito à madeira e sua exploração econômica, uma saga que envolve os muitos desafios para a conservação dos recursos naturais às gerações futuras.
Com o olhar jornalístico, crítico e ao mesmo tempo didático, adentramos a Amazônia em busca de histórias e sutilezas que os dados nem sempre revelam. Lapidamos estatísticas e estudos científicos para construir uma síntese útil a quem direciona esforços para conservar a floresta, seja no setor público, seja no setor privado, seja na sociedade civil.
Guiada como uma reportagem, rica em informações ilustradas, a obra Madeira de ponta a ponta revela a diversidade de fraudes na cadeia de produção, transporte e comercialização da madeira, bem como as iniciativas de boas práticas que se disseminam e trazem esperança rumo a um modelo de convivência entre desenvolvimento e manutenção da floresta.
VILLELA, M.; SPINK, P In: ADEODATO, S. et al. Madeira de ponta a ponta: o caminho desde a floresta até o consumo. São Paulo: FGV RAE, 2011 (adaptado).
A fim de alcançar seus objetivos comunicativos, os autores escreveram esse texto para
A) apresentar informações e comentários sobre o livro.
B) noticiaras descobertas científicas oriundas da pesquisa.
C) defender as práticas sustentáveis de manejo da madeira.
D) ensinar formas de combate à exploração ilegal de madeira.
E) demonstrar a importância de parcerias para a realização da pesquisa.
Em casa, Hideo ainda podia seguir fiel ao imperador japonês e às tradições que trouxera no navio que aportara em Santos. [...] Por isso Hideo exigia que, aos domingos, todos estivessem juntos durante o almoço. Ele se sentava à cabeceira da mesa; à direita ficava Hanashiro, que era o primeiro filho, e Hitoshi, o segundo, e à esquerda, Haruo, depois Hiroshi, que era o mais novo. [...] A esposa, que também era mãe, e as filhas, que também eram irmãs, aguardavam de pé ao redor da mesa [...]. Haruo reclamava, não se cansava de reclamar: que se sentassem também as mulheres à mesa, que era um absurdo aquele costume. Quando se casasse, se sentariam à mesa a esposa e o marido, um em frente ao outro, porque não era o homem melhor que a mulher para ser o primeiro [...]. Elas seguiam de pé, a mãe um pouco cansada dos protestos do filho, pois o momento do almoço era sagrado, não era hora de levantar bandeiras inúteis [...].
NAKASATO, O. Nihonjin. São Paulo: Benvirá, 2011 (fragmento).
Referindo-se a práticas culturais de origem nipônica, o narrador registra as reações que elas provocam na família e mostra um contexto em que
A) a obediência ao imperador leva ao prestígio pessoal.
B) as novas gerações abandonam seus antigos hábitos.
C) a refeição é o que determina a agregação familiar.
D) os conflitos de gênero tendem a ser neutralizados.
E) o lugar à mesa metaforiza uma estrutura de poder.
A técnica de jogos teatrais propõe uma aprendizagem não verbal, em que o aluno reúne os seus próprios dados, a partir de uma experimentação direta. Por meio do processo de solução de problemas, ele conquista o conhecimento da matéria.
KOUDELA, I. D. Jogos teatrais. São Paulo: Perspectiva, 1984 (adaptado).
Sob orientação do professor, os jogos teatrais são realizados na escola de forma que o estudante
A) seja um bom repetidor de movimentos e ações, pois a cópia e a memória colaboram com seu processo de desenvolvimento.
B) obedeça a regras sem se posicionar criticamente e sem desenvolver material criativo, fortalecendo a disciplina.
C) tenha um momento de recreação por meio da convivência com os colegas, melhorando seu rendimento escolar.
D) desenvolva qualidades de ordem cognitiva e sensorial, favorecendo sua autonomia e seu autoconhecimento.
E) reconheça o professor como principal responsável pelas escolhas a serem feitas em aula durante atividades de teatro.
Até que ponto replicar conteúdo é crime? “A internet e a pirataria são inseparáveis”, diz o diretor do instituto de pesquisas americano Social Science Research Council. “Há uma infraestrutura pequena para controlar quem é o dono dos arquivos que circulam na rede. Isso acabou com o controle sobre a propriedade e tem sido descrito como pirataria, mas é inerente à tecnologia”, afirma o diretor. O ato de distribuir cópias de um trabalho sem a autorização dos seus produtores pode, sim, ser considerado crime, mas nem sempre essa distribuição gratuita lesa os donos dos direitos autorais. Pelo contrário. Veja o caso do livro O alquimista, do escritor Paulo Coelho. Após publicar, para download gratuito, uma versão traduzida da obra em seu blog, Coelho viu as vendas do livro em papel explodirem.
BARRETO, J.; MORAES, M. A internet existe sem pirataria? Veja, n. 2 308, 13 fev. 2013 (adaptado).
De acordo com o texto, o impacto causado pela internet propicia a
A) banalização da pirataria na rede.
B) adoção de medidas favoráveis aos editores.
C) implementação de leis contra crimes eletrônicos.
D) reavaliação do conceito de propriedade intelectual.
E) ampliação do acesso a obras de autores reconhecidos.
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