Questões de Português do ENEM

Questões de Português retiradas das provas anteriores do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM

cód. #3462

INEP - Português - 2018 - Exame Nacional do Ensino Médio - Primeiro e Segundo Dia - PPL

Qualquer que tivesse sido o seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de profissão e passara pesadamente a ensinar no curso primário: era tudo o que sabíamos dele.

O professor era gordo, grande e silencioso, de ombros contraídos. Em vez de nó na garganta, tinha ombros contraídos. Usava paletó curto demais, óculos sem aro, com um fio de ouro encimando o nariz grosso e romano. E eu era atraída por ele. Não amor, mas atraída pelo seu silêncio e pela controlada impaciência que ele tinha em nos ensinar e que, ofendida, eu adivinhara. Passei a me comportar mal na sala. Falava muito alto, mexia com os colegas, interrompia a lição com piadinhas, até que ele dizia, vermelho:

— Cale-se ou expulso a senhora da sala.

Ferida, triunfante, eu respondia em desafio: pode me mandar! Ele não mandava, senão estaria me obedecendo. Mas eu o exasperava tanto que se tornara doloroso para mim ser objeto do ódio daquele homem que de certo modo eu amava. Não o amava como a mulher que eu seria um dia, amava-o como uma criança que tenta desastradamente proteger um adulto, com a cólera de quem ainda não foi covarde e vê um homem forte de ombros tão curvos.

LISPECTOR, C. Os desastres de Sofia. In: A legião estrangeira. São Paulo: Ática, 1997.


Entre os elementos constitutivos dos gêneros está a sua própria estrutura composicional, que pode apresentar um ou mais tipos textuais, considerando-se o objetivo do autor. Nesse fragmento, a sequência textual que caracteriza o gênero conto é a

A) expositiva, em que se apresentam as razões da atitude provocativa da aluna.
B) injuntiva, em que se busca demonstrar uma ordem dada pelo professor à aluna.
C) descritiva, em que se constrói a imagem do professor com base nos sentidos da narradora.
D) argumentativa, em que se defende a opinião da enunciadora sobre o personagem-professor.
E) narrativa, em que se contam fatos ocorridos com o professor e a aluna em certo tempo e lugar.

A B C D E

cód. #3463

INEP - Português - 2018 - Exame Nacional do Ensino Médio - Primeiro e Segundo Dia - PPL

“Escrever não é uma questão apenas de satisfação pessoal”, disse o filósofo e educador pernambucano Paulo Freire, na abertura de suas Cartas a Cristina, revelando a importância do hábito ritualizado da escrita para o desenvolvimento de suas ideias, para a concretização de sua missão e disseminação de seus pontos de vista. Freire destaca especial importância à escrita pelo desejo de “convencer outras pessoas”, de transmitir seus pensamentos e de engajar aqueles que o leem na realização de seus sonhos.

KNAPP, L. Linha fina. Comunicação Empresarial, n. 88, out. 2013.


Segundo o fragmento, para Paulo Freire, os textos devem exercer, em alguma medida, a função conativa, porque a atividade de escrita, notadamente, possibilita

A) levar o leitor a realizar ações.
B) expressar sentimentos do autor.
C) despertar a atenção do leitor.
D) falar da própria linguagem.
E) repassar informações.

A B C D E

cód. #3464

INEP - Português - 2018 - Exame Nacional do Ensino Médio - Primeiro e Segundo Dia - PPL

Não há dúvidas de que, nos últimos tempos, em função da velocidade, do volume e da variedade da geração de informações, questões referentes à disseminação, ao armazenamento e ao acesso de dados têm se tornado complexas, de modo a desafiar homens e máquinas. Por meio de sistemas financeiros, de transporte, de segurança e de comunicação interpessoal – representados pelos mais variados dispositivos, de cartões de crédito a trens, aviões, passaportes e telefones celulares –, circulam fluxos informacionais que carregam o DNA da vida cotidiana do indivíduo contemporâneo. Para além do referido cenário informacional contemporâneo, percebe-se, nos contextos governamentais, um esforço – gerado por leis e decretos, ou mesmo por pressões democráticas – em disseminar informações de interesse público. No Brasil, está em vigor, desde maio de 2012, a Lei de Acesso à Informação n. 12.527. Em linhas gerais, a legislação regulamenta o direito à informação, já garantido na Constituição Federal, obrigando órgãos públicos a divulgarem os seus dados.

SILVA JR., M. G. Vigiar, punir e viver. Minas faz Ciência, n. 58, 2014 (adaptado).


As Tecnologias de Informação e Comunicação propiciam à sociedade contemporânea o acesso à grande quantidade de dados públicos e privados. De acordo com o texto, essa nova realidade promove

A) questionamento sobre a privacidade.
B) mecanismos de vigilância de pessoas.
C) disseminação de informações individuais.
D) interferência da legislação no uso dos dados.
E) transparência na relação entre governo e cidadãos.

A B C D E

cód. #3465

INEP - Português - 2018 - Exame Nacional do Ensino Médio - Primeiro e Segundo Dia - PPL

E fui mostrar ao ilustre hóspede [o governador do Estado] a serraria, o descaroçador e o estábulo. Expliquei em resumo a prensa, o dínamo, as serras e o banheiro carrapaticida. De repente supus que a escola poderia trazer a benevolência do governador para certos favores que eu tencionava solicitar.

— Pois sim senhor. Quando V. Exª. vier aqui outra vez, encontrará essa gente aprendendo cartilha.

RAMOS, G. São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 1991.


O fragmento do romance de Graciliano Ramos dialoga com o contexto da Primeira República no Brasil, ao focalizar o(a)

A) derrocada de práticas clientelistas.
B) declínio do antigo atraso socioeconômico.
C) liberalismo desapartado de favores do Estado.
D) fortalecimento de políticas públicas educacionais.
E) aliança entre a elite agrária e os dirigentes políticos.

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cód. #3466

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Uma das funções da obra de arte é representar o contexto sociocultural ao qual ela pertence. Produzida na primeira metade do século XX, a Estrada de Ferro Central do Brasil evidencia o processo de modernização pela

A) verticalização do espaço.
B) desconstrução da forma.
C) sobreposição de elementos.
D) valorização da natureza.
E) abstração do tema.

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cód. #3467

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Glossário diferenciado


Outro dia vi um anúncio de alguma coisa que não lembro o que era (como vocês podem deduzir, o anúncio era péssimo). Lembro apenas que o produto era diferenciado, funcional e sustentável. Pensando nisso, fiz um glossário de termos diferenciados e suas respectivas funcionalidades.

Diferenciado: um adjetivo que define um substantivo mas também o sujeito que o está usando. Quem fala “diferenciado” poderia falar “diferente”. Mas escolheu uma palavra diferenciada. Porque ele quer mostrar que ele próprio é “diferenciado”. Essa é a função da palavra “diferenciado”: diferenciar-se. Por diferençado, entenda: “mais caro”. Estudos indicam que a palavra “diferenciado” representa um aumento de 50% no valor do produto. É uma palavra que faz a diferença.

DUVIVIER, G. Disponível em: www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 17 nov. 2014 (adaptado).


Os gêneros são definidos, entre outros fatores, por sua função social. Nesse texto, um verbete foi criado pelo autor para

A) atribuir novo sentido a uma palavra.
B) apresentar as características de um produto.
C) mostrar um posicionamento crítico.
D) registrar o surgimento de um novo termo.
E) contar um fato do cotidiano.

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cód. #3468

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O tradicional ornato para cabelos, a tiara ou diadema, já foi uma exclusividade feminina. Na origem, tanto “tiara” quanto “diadema” eram palavras de bom berço. “Tiara” nomeava o adorno que era o signo de poder entre os poderosos da Pérsia antiga e povos como os frísios, os bizantinos e os etíopes. A palavra foi incorporada do Oriente pela Grécia e chegou até nós por via latina, para quem queria referir-se à mitra usada pelos persas. Diadema era a faixa ou tira de linho fino colocado na cabeça pelos antigos latinos, herança do derivado grego para diádo (atar em volta, segundo o Houaiss). No Brasil, a forma de arco ou de laço das tiaras e alguns usos específicos (o nordestino “gigolete” faz alusão ao ornato usado por cafetinas, versões femininas do “gigolô”) produziram novos sinônimos regionais do objeto.

Os sinônimos da tiara. Língua Portuguesa, n. 23, 2007 (adaptado).


No texto, relata-se que o nome de um enfeite para cabelo assumiu diferentes denominações ao longo da história. Essa variação justifica-se pelo(a)

A) distanciamento de sentidos mais antigos
B) registro de fatos históricos ocorridos em uma dada época.
C) associação a questões religiosas específicas de uma sociedade.
D) tempo de uso em uma comunidade linguística.
E) utilização do objeto por um grupo social.

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cód. #3469

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No texto, o uso da linguagem verbal e não verbal atende à finalidade de

A) chamar a atenção para o respeito aos sinais de trânsito.
B) informar os motoristas sobre a segurança dos usuários de ciclovias.
C) alertar sobre os perigos presentes nas vias urbanas brasileiras.
D) divulgar a distância permitida entre carros e veículos menores.
E) propor mudanças de postura por parte de motoristas no trânsito.

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cód. #3470

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Para que serve a tecnologia

Computador


“Com os computadores e a internet, mudei muito. A Lian de hoje é totalmente diferente daquela de antes da informática. Me abriu portas e, além de tudo, fui aceita por pessoas que achava que não iriam me aceitar. Com a internet, viajei o mundo. Fui até Portugal e à África. Eu nem sabia que lá a realidade era tão forte. Perto deles, estamos até muito bem.” – Tânia “Lian” Silva, 26, índia pankararu.


TV


“Eu gosto muito de televisão. Assisto às novelas, me divirto muito. Mas, ao mesmo tempo, sei que aquilo tudo que passa lá não é verdade. É tudo uma ilusão.” – Valentina Maria Vieira dos Santos, 89, índia fulni-ô da aldeia Xixi a cla.


MP3 Player


“Cuido do meu tocador de MP3 como se fosse um tesouro. É um pen drive simples, mas é muito especial para mim. Nele ouço músicas indígenas e bandas da própria aldeia. Ele vive emprestado porque acaba sendo a diversão da aldeia inteira. Uso até para exibir uns vídeos que baixo da internet. Basta colocar no aparelho de DVD com entrada USB que tenho.” – Jailton Pankararu, 23, índio pankararu.

Disponível em: www2.uol.com.br. Acesso em: 1 ago. 2012.


Os depoimentos apresentados no texto retratam o modo como diferentes gerações indígenas relatam suas experiências com os artefatos tecnológicos. Os comentários revelam

A) uma preferência pela possibilidade de uso do computador.
B) um elogio à utilidade da tecnologia no cotidiano indígena.
C) uma crítica à própria identidade antes da inclusão digital.
D) o gosto pela ilusão em telenovelas transmitidas na TV.
E) o desejo de possuir um aparelho importado.

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cód. #3471

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Uma língua, múltiplos falares


Desde suas origens, o Brasil tem uma língua dividida em falares diversos. Mesmo antes da chegada dos portugueses, o território brasileiro já era multilíngue. Havia cerca de 1,2 mil línguas faladas pelos povos indígenas. O português trazido pelo colonizador tampouco era uma língua homogênea, havia variações dependendo da região de Portugal de onde ele vinha. Há de se considerar também que a chegada de falantes de português acontece em diferentes etapas, em momentos históricos específicos. Na cidade de São Paulo, por exemplo, temos primeiramente o encontro linguístico de portugueses com índios e, além dos negros da África, vieram italianos, japoneses, alemães, árabes, todos com suas línguas. “Todo este processo vai produzindo diversidades linguísticas que caracterizam falares diferentes”, afirma um linguista da Unicamp. Daí que na mesma São Paulo pode-se encontrar modos de falar distintos como o de Adoniran Barbosa, que eternizou em suas composições o sotaque típico de um filho de imigrantes italianos, ou o chamado erre retroflexo, aquele erre dobrado que, junto com a letra i, resulta naquele jeito de falar “cairne” e “poirta” característico do interior de São Paulo.

MARIUZZO, P. Disponível em: www.labjor.unicamp.br. Acesso em: 30 jul. 2012 (adaptado).


A partir desse breve histórico da língua portuguesa no Brasil, um dos elementos de identidade nacional, entende-se que a diversidade linguística é resultado da

A) imposição da língua do colonizador sobre as línguas indígenas.
B) interação entre os falantes de línguas e culturas diferentes.
C) sobreposição das línguas europeias sobre as africanas e indígenas.
D) heterogeneidade da língua trazida pelo colonizador.
E) preservação dos sotaques característicos dos imigrantes.

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