Questões de Português retiradas das provas anteriores do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM
Esporte e cultura: análise acerca da esportivização de
práticas corporais nos jogos indígenas
Nos Jogos dos Povos Indígenas, observa-se que as práticas corporais realizadas envolvem elementos tradicionais (como as pinturas e adornos corporais) e modernos (como a regulamentação, a fiscalização e a padronização). O arco e flecha e a lança, por exemplo, são instrumentos tradicionalmente utilizados para a caça e a defesa da comunidade na aldeia. Na ocasião do evento, esses artefatos foram produzidos pela própria etnia, porém sua estruturação como “modalidade esportiva” promoveu uma semelhança entre as técnicas apresentadas, com o sentido único da competição.
ALMEIDA, A. J. M.; SUASSUNA, D. M. F. A. Pensar a prática, n. 1, jan.-abr. 2010 (adaptado).
A relação entre os elementos tradicionais e modernos nos Jogos dos Povos Indígenas desencadeou a
A) padronização de pinturas e adornos corporais.
B) sobreposição de elementos tradicionais sobre os modernos.
C) individuação das técnicas apresentadas em diferentes modalidades.
D) legitimação das práticas corporais indígenas como modalidade esportiva.
E) preservação dos significados próprios das práticas corporais em cada cultura.
Essa campanha se destaca pela maneira como utiliza a linguagem para conscientizar a sociedade da necessidade de se acabar com o bullying. Tal estratégia está centrada no(a)
A) chamamento de diferentes atores sociais pelo uso recorrente de estruturas injuntivas.
B) variedade linguística caracterizadora do português europeu.
C) restrição a um grupo específico de vítimas ao apresentar marcas gráficas de identificação de gênero como “o(a)”.
D) combinação do significado de palavras escritas em línguas inglesa e portuguesa.
E) enunciado de cunho esperançoso “passe à história” no título do cartaz.
Mídias: aliadas ou inimigas da educação física escolar?
No caso do esporte, a mediação efetuada pela câmera de TV construiu uma nova modalidade de consumo: o esporte telespetáculo, realidade textual relativamente autônoma face à prática “real” do esporte, construída pela codificação e mediação dos eventos esportivos efetuados pelo enquadramento, edição das imagens e comentários, interpretando para o espectador o que ele está vendo. Esse fenômeno tende a valorizar a forma em relação ao conteúdo, e para tal faz uso privilegiado da linguagem audiovisual com ênfase na imagem cujas possibilidades são levadas cada vez mais adiante, em decorrência dos avanços tecnológicos. Por outro lado, a narração esportiva propõe uma concepção hegemônica de esporte: esporte é esforço máximo, busca da vitória, dinheiro... O preço que se paga por sua espetacularização é a fragmentação do fenômeno esportivo. A experiência global do ser-atleta é modificada: a sociabilização no confronto e a ludicidade não são vivências privilegiadas no enfoque das mídias, mas as eventuais manifestações de violência, em partidas de futebol, por exemplo, são exibidas e reexibidas em todo o mundo.
BETTI, M. Motriz, n. 2, jul.-dez. 2001 (adaptado).
A reflexão trazida pelo texto, que aborda o esporte telespetáculo, está fundamentada na
A) distorção da experiência do ser-atleta para os espectadores.
B) interpretação dos espectadores sobre o conteúdo transmitido.
C) utilização de equipamentos audiovisuais de última geração.
D) valorização de uma visão ampliada do esporte.
E) equiparação entre a forma e o conteúdo.
Meu caro Sherlock Holmes, algo horrível aconteceu às três da manhã no Jardim Lauriston. Nosso homem que estava na vigia viu uma luz às duas da manhã saindo de uma casa vazia. Quando se aproximou, encontrou a porta aberta e, na sala da frente, o corpo de um cavalheiro bem vestido. Os cartões que estavam em seu bolso tinham o nome de Enoch J. Drebber, Cleveland, Ohio, EUA. Não houve assalto e nosso homem não conseguiu encontrar algo que indicasse como ele morreu. Não havia marcas de sangue, nem feridas nele. Não sabemos como ele entrou na casa vazia. Na verdade, todo assunto é um quebra-cabeça sem fim. Se puder vir até a casa seria ótimo, se não, eu lhe conto os detalhes e gostaria muito de saber sua opinião. Atenciosamente, Tobias Gregson.
DOYLE, A. C. Um estudo em vermelho. Cotia: Pé de Letra, 2017.
Considerando o objetivo da carta de Tobias Gregson, a sequência de enunciados negativos presente nesse texto tem a função de
A) restringir a investigação, deixando-a sob a responsabilidade do autor da carta.
B) refutar possíveis causas da morte do cavalheiro, auxiliando na investigação.
C) identificar o local da cena do crime, localizando-o no Jardim Lauriston.
D) introduzir o destinatário da carta, caracterizando sua personalidade.
E) apresentar o vigia, incluindo-o entre os suspeitos do assassinato.
Um amor desse
Era 24 horas lado a lado
Um radar na pele, aquele sentimento alucinado
Coração batia acelerado
Bastava um olhar pra eu entender
Que era hora de me entregar pra você
Palavras não faziam falta mais
Ah, só de lembrar do seu perfume
Que arrepio, que calafrio
Que o meu corpo sente
Nem que eu queira, eu te apago da minha mente
Ah, esse amor
Deixou marcas no meu corpo
Ah, esse amor
Só de pensar, eu grito, eu quase morro
AZEVEDO, N.; LEÃO, W.; QUADROS, R. Coração pede socorro. Rio de Janeiro: Som Livre, 2018 (fragmento).
Essa letra de canção foi composta especialmente para uma campanha de combate à violência contra as mulheres, buscando conscientizá-las acerca do limite entre relacionamento amoroso e relacionamento abusivo. Para tanto, a estratégia empregada na letra é a
A) revelação da submissão da mulher à situação de violência, que muitas vezes a leva à morte.
B) ênfase na necessidade de se ouvirem os apelos da mulher agredida, que continuamente pede socorro.
C) exploração de situação de duplo sentido, que mostra que atos de dominação e violência não configuram amor.
D) divulgação da importância de denunciar a violência doméstica, que atinge um grande número de mulheres no país.
E) naturalização de situações opressivas, que fazem parte da vida de mulheres que vivem em uma sociedade patriarcal.
Pela análise do conteúdo, constata-se que essa campanha publicitária tem como função social
A) propagar a imagem positiva do Ministério Público.
B) conscientizar a população que direitos implicam deveres.
C) coibir violações de direitos humanos nos meios de comunicação.
D) divulgar políticas sociais que combatem a intolerância e o preconceito.
E) instruir as pessoas sobre a forma correta de expressão nas redes sociais.
TEXTO II
Stephen Lund, artista canadense, morador em Victoria, capital da Colúmbia Britânica (Canadá), transformou-se em fenômeno mundial produzindo obras de arte virtuais pedalando sua bike. Seguindo rotas traçadas com o auxílio de um dispositivo de GPS, ele calcula ter percorrido mais de 10 mil quilômetros.
Disponível em: www.booooooom.com. Acesso em: 9 dez. 2017 (adaptado).
Os textos destacam a inovação artística proposta por Stephen Lund a partir do(a)
A) deslocamento das tecnologias de suas funções habituais.
B) perspectiva de funcionamento do dispositivo de GPS.
C) ato de guiar sua bicicleta pelas ruas da cidade.
D) análise dos problemas de mobilidade urbana.
E) foco na promoção cultural da sua cidade.
Farejador de Plágio: uma ferramenta contra a cópia ilegal
No mundo acadêmico ou nos veículos de comunicação, as cópias ilegais podem surgir de diversas maneiras, sendo integrais, parciais ou paráfrases. Para ajudar a combater esse crime, o professor Maximiliano Zambonatto Pezzin, engenheiro de computação, desenvolveu junto com os seus alunos o programa Farejador de Plágio.
O programa é capaz de detectar: trechos contínuos e fragmentados, frases soltas, partes de textos reorganizadas, frases reescritas, mudanças na ordem dos períodos e erros fonéticos e sintáticos.
Mas como o programa realmente funciona? Considerando o texto como uma sequência de palavras, a ferramenta analisa e busca trecho por trecho nos sites de busca, assim como um professor desconfiado de um aluno faria. A diferença é que o programa permite que se pesquise em vários buscadores, gerando assim muito mais resultados.
Disponível em: http://reporterunesp.jor.br. Acesso em: 19 mar. 2018
Segundo o texto, a ferramenta Farejador de Plágio alcança seu objetivo por meio da
A) seleção de cópias integrais.
B) busca em sites especializados.
C) simulação da atividade docente.
D) comparação de padrões estruturais.
E) identificação de sequência de fonemas.
Encontrando base em argumentos supostamente científicos, o mito do sexo frágil contribuiu historicamente para controlar as práticas corporais desempenhadas pelas mulheres. Na história do Brasil, exatamente na transição entre os séculos XIX e XX, destacam-se os esforços para impedir a participação da mulher no campo das práticas esportivas. As desconfianças em relação à presença da mulher no esporte estiveram culturalmente associadas ao medo de masculinizar o corpo feminino pelo esforço físico intenso. Em relação ao futebol feminino, o mito do sexo frágil atuou como obstáculo ao consolidar a crença de que o esforço físico seria inapropriado para proteger a feminilidade da mulher “normal”. Tal mito sustentou um forte movimento contrário à aceitação do futebol como prática esportiva feminina. Leis e propagandas buscaram desacreditar o futebol, considerando-o inadequado à delicadeza. Na verdade, as mulheres eram consideradas incapazes de se adequar às múltiplas dificuldades do “esporte-rei”.
TEIXEIRA, F L. S.; CAMINHA, I. O. Preconceito no futebol feminino: uma revisão sistemática. Movimento, Porto Alegre, n. 1,2013 (adaptado).
No contexto apresentado, a relação entre a prática do futebol e as mulheres é caracterizada por um
A) argumento biológico para justificar desigualdades históricas e sociais.
B) discurso midiático que atua historicamente na desconstrução do mito do sexo frágil.
C) apelo para a preservação do futebol como uma modalidade praticada apenas pelos homens.
D) olhar feminista que qualifica o futebol como uma atividade masculinizante para as mulheres.
E) receio de que sua inserção subverta o “esporte-rei” ao demonstrarem suas capacidades de jogo.
A Casa de Vidro
Houve protestos.
Deram uma bola a cada criança e tempo para brincar. Elas aprenderam malabarismos incríveis e algumas viajavam pelo mundo exibindo sua alegre habilidade. (O problema é que muitos, a maioria, não tinham jeito e eram feios de noite, assustadores. Seria melhor prender essa gente - havia quem dissesse.)
Houve protestos.
Aumentaram o preço da carne, liberaram os preços dos cereais e abriram crédito a juros baixos para o agricultor. O dinheiro que sobrasse, bem, digamos, ora o dinheiro que sobrasse!
Houve protestos.
Diminuíram os salários (infelizmente aumentou o número de assaltos) porque precisamos combater a inflação e, como se sabe, quando os salários estão acima do índice de produtividade eles se tornam altamente inflacionários, de modo que.
Houve protestos.
Proibiram os protestos.
E no lugar dos protestos nasceu o ódio. Então surgiu a Casa de Vidro, para acabar com aquele ódio.
ÂNGELO, I. A casa de vidro. São Paulo: Círculo do Livro, 1985.
Publicado em 1979, o texto compartilha com outras obras da literatura brasileira escritas no período as marcas do contexto em que foi produzido, como a
A) referência à censura e à opressão para alegorizar a falta de liberdade de expressão característica da época.
B) valorização de situações do cotidiano para atenuar os sentimentos de revolta em relação ao governo instituído.
C) utilização de metáforas e ironias para expressar um olhar crítico em relação à situação social e política do país.
D) tendência realista para documentar com verossimilhança o drama da população brasileira durante o Regime Militar.
E) sobreposição das manifestações populares pelo discurso oficial para destacar o autoritarismo do momento histórico.
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