Questões de Literatura retiradas das provas anteriores do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM
TEXTO II
Tenho um rosto lacerado por rugas secas e profundas, sulcos na pele. Não é um rosto desfeito, como acontece com pessoas de traços delicados, o contorno é o mesmo mas a matéria foi destruída. Tenho um rosto destruído.
DURAS, M. O amante. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
A) da adesão à estética do grotesco, herdada do romantismo europeu, que trouxe novas possibilidades de representação.
B) das catástrofes que assolaram o século XX e da descoberta de uma realidade psíquica pela psicanálise.
C) da opção em demonstrarem oposição aos limites estéticos da revolução permanente trazida pela arte moderna.
D) do posicionamento do artista do século XX contra a negação do passado, que se torna prática dominante na sociedade burguesa.
E) da intenção de garantir uma forma de criar obras de arte independentes da matéria presente em sua história pessoal.
Antiode
Poesia, não será esse
o sentido em que
ainda te escrevo:
flor! (Te escrevo:
flor! Não uma
flor, nem aquela
flor-virtude — em
disfarçados urinóis).
Flor é a palavra
flor; verso inscrito
no verso, como as
manhãs no tempo.
Flor é o salto
da ave para o voo:
o salto fora do sono
quando seu tecido
se rompe; é uma explosão
posta a funcionar,
como uma máquina,
uma jarra de flores.
MELO NETO, J. C. Psicologia da composição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento)
A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da linguagem, sem necessariamente explicá-lo. Nesse fragmento de João Cabral de Melo Neto, poeta da geração de 1945, o sujeito lírico propõe a recriação poética de
A) uma palavra, a partir de imagens com as quais ela pode ser comparada, a fim de assumir novos significados.
B) um urinol, em referência às artes visuais ligadas às vanguardas do início do século XX.
C) uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma imagem historicamente ligada à palavra poética.
D) uma máquina, levando em consideração a relevância do discurso técnico-científico pós-Revolução Industrial.
E) um tecido, visto que sua composição depende de elementos intrínsecos ao eu lírico.
A partida de trem
Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pagou o táxi e pegou sua pequena valise. Dona Maria Rita de Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha e encaminharam-se para os trilhos. A velha bem-vestida e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía a forma pura de um nariz perdido na idade, e de uma boca que outrora devia ter sido cheia e sensível. Mas que importa? Chega-se a um certo ponto — e o que foi não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não pode comunicar-se. Recebeu o beijo gelado de sua filha que foi embora antes do trem partir. Ajudara-a antes a subir no vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela se colocara do lado. Quando a locomotiva se pôs em movimento, surpreendeu-se um pouco: não esperava que o trem seguisse nessa direção e sentara-se de costas para o caminho.
Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou:
— A senhora deseja trocar de lugar comigo?
Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse que não, obrigada, para ela dava no mesmo. Mas parecia ter-se perturbado. Passou a mão sobre o camafeu filigranado de ouro, espetado no peito, passou a mão pelo broche. Seca. Ofendida? Perguntou afinal a Angela Pralini:
— É por causa de mim que a senhorita deseja trocar de lugar?
LISPECTOR, C. Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 (fragmento)
A) comportamento vaidoso de mulheres de condição social privilegiada.
B) anulação das diferenças sociais no espaço público de uma estação.
C) incompatibilidade psicológica entre mulheres de gerações diferentes.
D) constrangimento da aproximação formal de pessoas desconhecidas.
E) sentimento de solidão alimentado pelo processo de envelhecimento.
Estas palavras ecoavam docemente pelos atentos ouvidos de Guaraciaba, e lhe ressoavam n’alma como um hino celestial. Ela sentia-se ao mesmo tempo enternecida e ufana por ouvir aquele altivo e indómito guerreiro pronunciar a seus pés palavras do mais submisso e mavioso amor, e respondeu-lhe cheia de emoção: — Itajiba, tuas falas são mais doces para minha alma que os favos da jataí, ou o suco delicioso do abacaxi. Elas fazem-me palpitar o coração como a flor que estremece ao bafejo perfumado das brisas da manhã. Tu me amas, bem o sei, e o amor que te consagro também não é para ti nenhum segredo, embora meus lábios não o tenham revelado. A flor, mesmo nas trevas, se trai pelo seu perfume; a fonte do deserto, escondida entre os rochedos, se revela por seu murmúrio ao caminhante sequioso. Desde os primeiros momentos tu viste meu coração abrir-se para ti, como a flor do manacá aos primeiros raios do sol.
GUIMARÃES, B. O ermitão de Muquém. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 out. 2015.
O texto de Bernardo Guimarães é representativo da estética romântica. Entre as marcas textuais que evidenciam a filiação a esse movimento literário está em destaque a
A) referência a elementos da natureza local.
B) exaltação de Itajiba como nobre guerreiro.
C) cumplicidade entre o narrador e a paisagem.
D) representação idealizada do cenário descrito.
E) expressão da desilusão amorosa de Guaraciaba.
PINHÃO sai ao mesmo tempo que BENONA entra.
BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com você.
EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora, mas não quero falar com ele.
BENONA: Mas Eurico, nós lhe devemos certas atenções.
EURICÃO: Você, que foi noiva dele. Eu, não!
BENONA: Isso são coisas passadas.
EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. Esperava que Eudoro, com todo aquele dinheiro, se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um patrimônio a mais. E o peste me traiu. Agora, parece que ouviu dizer que eu tenho um tesouro. E vem louco atrás dele, sedento, atacado de verdadeira hidrofobia. Vive farejando ouro, como um cachorro da molest'a, como um urubu, atrás do sangue dos outros. Mas ele está enganado. Santo Antônio há de proteger minha pobreza e minha devoção.
SUASSUNA, A. O santo e a porca. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013 (fragmento).
Nesse texto teatral, o emprego das expressões “o peste” e “cachorro da molesta” contribui para
A) marcar a classe social das personagens.
B) caracterizar usos linguísticos de uma região.
C) enfatizar a relação familiar entre as personagens.
D) sinalizar a influência do gênero nas escolhas vocabulares.
E) demonstrar o tom autoritário da fala de uma das personagens.
Quem não se recorda de Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da corte como brilhante meteoro, e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira seu fulgor? Tinha ela dezoito anos quando apareceu a primeira vez na sociedade. Não a conheciam; e logo buscaram todos com avidez informações acerca da grande novidade do dia. Dizia-se muita coisa que não repetirei agora, pois a seu tempo saberemos a verdade, sem os comentos malévolos de que usam vesti-la os noveleiros. Aurélia era órfã; tinha em sua companhia uma velha parenta, viúva, D. Firmina Mascarenhas, que sempre a acompanhava na sociedade. Mas essa parenta não passava de mãe de encomenda, para condescender com os escrúpulos da sociedade brasileira, que naquele tempo não tinha admitido ainda certa emancipação feminina. Guardando com a viúva as deferências devidas à idade, a moça não declinava um instante do firme propósito de governar sua casa e dirigir suas ações como entendesse. Constava também que Aurélia tinha um tutor; mas essa entidade era desconhecida, a julgar pelo caráter da pupila, não devia exercer maior influência em sua vontade, do que a velha parenta.
ALENCAR, J. Senhora. São Paulo: Ática, 2006.
O romance Senhora, de José de Alencar, foi publicado em 1875. No fragmento transcrito, a presença de D. Firmina Mascarenhas como "parenta" de Aurélia Camargo assimila práticas e convenções sociais inseridas no contexto do Romantismo, pois
A) o trabalho ficcional do narrador desvaloriza a mulher ao retratar a condição feminina na sociedade brasileira da época.
B) o trabalho ficcional do narrador mascara os hábitos sociais no enredo de seu romance.
C) as características da sociedade em que Aurélia vivia são remodeladas na imaginação do narrador romântico.
D) o narrador evidencia o cerceamento sexista à autoridade da mulher, financeiramente independente.
E) o narrador incorporou em sua ficção hábitos muito avançados para a sociedade daquele período histórico.
A) preservação da proporção.
B) idealização do movimento.
C) estruturação assimétrica.
D) sintetização das formas.
E) valorização estética.
A) relaciona a posição social a padrões de comportamento e à condição de raça.
B) apresenta os homens e as mulheres melhores do que eram no século XIX.
C) mostra a pouca cultura feminina e a distribuição de saberes entre homens e mulheres.
D) ilustra os diferentes modos que um indivíduo tinha de ascender socialmente.
E) critica a educação oferecida às mulheres e os maus-tratos dispensados aos negros.
A) provocar a necessidade e o interesse dos fiéis sobre o conteúdo que será abordado no sermão.
B) conduzir o interlocutor à sua própria reflexão sobre os temas abordados nas pregações.
C) apresentar questionamentos para os quais a Igreja não possui respostas.
D) inserir argumentos à tese defendida pelo pregador sobre a eficácia das pregações.
E) questionar a importância das pregações feitas pela Igreja durante os sermões.
A) considera que em sua época o mais importante é a independência dos indivíduos.
B) desvaloriza a importância dos planos pessoais na vida em sociedade.
C) reconhece a tendência à autodestruição em uma sociedade oprimida.
D) escolhe a realidade social e seu alcance individual como matéria poética.
E) critica o individualismo comum aos românticos e aos excêntricos.
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