Questões de História retiradas das provas anteriores do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM
Atualmente, a noção de que o bandido não está protegido pela lei tende a ser aceita pelo senso comum. Urge mobilizar todas as forças da sociedade para reverter essa noção letal para o Estado Democrático de Direito, pois, como dizia o grande Rui Barbosa, “A lei que não protege o meu inimigo, não me serve”.
SAMPAIO, P A. Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. In.: Os Direitos Humanos desafiando o século XXI. Brasília: OAB; Conselho Federal; Comissão Nacional de Direitos Humanos, 2010.
No texto, o autor estabelece uma relação entre democracia e direito que remete a um dos mais valiosos princípios da Revolução Francesa: a lei deve ser igual para todos. A inobservância desse princípio é uma ameaça à democracia, porque
A) resulta em uma situação em que algumas pessoas possuem mais direitos do que outras.
B) diminui o poder de contestação dos movimentos sociais organizados.
C) favorece a impunidade e a corrupção por meio dos privilégios de nascimento.
D) consagra a ideia de que as diferenças devem se basear na capacidade de cada um.
E) restringe o direito de voto a apenas uma parcela da sociedade civil.
Antes de tomar posse no seu cargo, ainda na Europa, Rio Branco agira no sentido de afastar o perigo imediato do Bolivian Syndicate, empresa estadunidense, e propusera a compra do território do Acre. Recusada essa ideia, propôs o Governo brasileiro a troca de territórios e ofereceu compensação, como a de favorecer, por uma estrada de ferro, o tráfego comercial pelo rio Madeira, entendendo-se diretamente com o Bolivian Syndicate.
RODRIGUES, J. H.; SEITENFUS, R. Uma História Diplomática do Brasil: 1531-1945. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1995 (adaptado).
O texto aborda uma das questões fronteiriças enfrentadas no período em que José da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, esteve à frente do Ministério das Relações Exteriores (1902-1912).
A estratégia de entendimento direto do Brasil com a empresa Bolivian Syndicate, que havia arrendado o Acre junto ao governo boliviano, explica-se pela
A) proteção à população indígena.
B) consolidação das guerras de conquista.
C) implementação da indústria de borracha.
D) negociação com seringueiros organizados.
E) preocupação com intervenção imperialista.
Eleições, no Império, eram um acontecimento muito especial. Nesses dias o mais modesto cidadão vestia sua melhor roupa, ou a menos surrada, e exibia até sapatos, peças do vestuário tão valorizadas entre aqueles que pouco tinham. Em contraste com essa maioria, vestimentas de gala de autoridades civis, militares e eclesiásticas — tudo do bom e do melhor compunha a indumentária de quem era mais que um cidadão qualquer e queria exibir em público essa sua privilegiada condição.
CAVANI, S. Às urnas, cidadãos! In: Revista de História da Biblioteca Nacional. Ano 3, n° 26, nov. 2007.
No Brasil do século XIX, a noção de cidadania estava vinculada à participação nos processos eleitorais. As eleições revelavam um tipo de cidadania carente da igualdade jurídica defendida nesse mesmo período por muitos movimentos europeus herdeiros do Iluminismo devido à
A) exclusão dos analfabetos, que impedia a maioria da população de participar das eleições.
B) raridade das eleições, que criava apenas a ilusão de participação entre os cidadãos.
C) vigência da Constituição do Império, que definia como cidadãos apenas aqueles que eram eleitos.
D) presença do Poder Moderador, que significava, na prática, a inutilidade das eleições legislativas.
E) existência do voto censitário, que reafirmava as hierarquias sociais.
Parece-me bastante significativo que a questão muito discutida sobre se o homem deve ser “ajustado” à máquina ou se a máquina deve ser ajustada à natureza do homem nunca tenha sido levantada a respeito dos meros instrumentos e ferramentas. E a razão disto é que todas as ferramentas da manufatura permanecem a serviço da mão, ao passo que as máquinas realmente exigem que o trabalhador as sirva, ajuste o ritmo natural do seu corpo ao movimento mecânico delas.
ARENDT, H. Trabalho, Obra e Ação. In: Cadernos de Ética e Filosofia Política 7. São Paulo: EdUSP, 2005 (fragmento).
Com base no texto, as principais consequências da substituição da ferramenta manual pela máquina são
A) o adestramento do corpo e a perda da autonomia do trabalhador.
B) a reformulação dos modos de produção e o engajamento político do trabalhador.
C) o aperfeiçoamento da produção manufatureira criativa e a rejeição do trabalho repetitivo.
D) a flexibilização do controle ideológico e a manutenção da liberdade do trabalhador.
E) o abandono da produção manufatureira e o aperfeiçoamento da máquina.
Escrevendo em jornais, entrando para a política, fugindo para quilombos, montando pecúlios para comprar alforrias... Os negros brasileiros não esperaram passivamente pela libertação. Em vez disso, lutaram em diversas frentes contra a escravidão, a ponto de conseguir que, à época em que a Lei Áurea foi assinada, apenas uma pequena minoria continuasse formalmente a ser propriedade.
Antes da Lei Áurea. Liberdade Conquistada. Revista Nossa História. Ano 2, n° 19. São Paulo: Vera Cruz, 2005.
No que diz respeito à Abolição, o texto apresenta uma análise historiográfica realizada nas últimas décadas por historiadores, brasileiros e brasilianistas, que se diferencia das análises mais tradicionais. Essa análise recente apresenta a extinção do regime escravista, em grande parte, como resultado
A) da ação benevolente da Princesa Isabel, que, assessorada por intelectuais e políticos negros, tomou a abolição como uma causa pessoal.
B) da ação da imprensa engajada que, controlada por intelectuais brancos sensíveis à causa da liberdade, levantou a bandeira abolicionista.
C) das necessidades do capitalismo inglês de substituir o trabalho escravo pelo assalariado, visando ampliar o mercado consumidor no Brasil.
D) da luta dos próprios negros, escravos ou libertos, que empreenderam um conjunto de ações que tornaram o regime escravista incapaz de se sustentar.
E) do espírito humanitário de uma moderna camada proprietária que, influenciada pelo liberalismo, tomou atitudes individuais, libertando seus escravos.
A questão agrária e as lutas de hoje pela terra são herdeiras de processos transcorridos nas décadas de 1940 a 1960. Contudo, se no contexto anterior a questão agrária tinha em sua base o arcaísmo do mundo rural, hoje ela é resultante dos processos de modernização da agricultura.
GRYNSZPAN, M. Tempo de Plantar, tempo de colher. In: Nossa História. Ano 1, n° 9, São Paulo: Vera Cruz, jul. 2004 (adaptado).
A modernização da agricultura no Brasil aprofundou as causas da luta pela terra a partir dos anos 1970, pois
A) piorou as relações de trabalho no campo, mas conteve o êxodo rural.
B) elevou a produtividade agrícola, mas intensificou a concentração fundiária.
C) introduziu novas máquinas na agricultura, mas não criou condições para o escoamento da produção.
D) aumentou a competitividade da agricultura, mas a desvinculou dos produtos primários.
E) implementou relações capitalistas no campo, mas impediu a sindicalização dos trabalhadores rurais.
Em Brasília, foram mais de cem mil pessoas saudando os campeões. A seleção voou diretamente da Cidade do México para Brasília. Na festa da vitória, Médici presenteou os jogadores com dinheiro e posou para os fotógrafos com a taça Jules Rimet nas mãos. Até uma Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP) chegou a ser criada para mudar a imagem do governo e cristalizar, junto à opinião pública, a imagem de um país vitorioso, alavancando campanhas que criavam o mito do “Brasil grande” que “vai para frente”. Todos os jogadores principais da Copa de 70 foram usados como garotos-propaganda.
BAHIANA, A. M. Almanaque Anos 70. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006 (adaptado).
A visibilidade dos esportes, especialmente do futebol, nos meios de comunicação de massa, tornou-os uma questão de Estado para os governos militares no Brasil, que buscavam, assim,
A) legitimar o Estado autoritário por meio de vitórias esportivas nacionais.
B) mostrar que os governantes estavam entre seus primeiros praticantes.
C) controlar o uso de garotos-propaganda pelas agências de publicidade.
D) valorizar os atletas, integrando-os como funcionários ao aparelho de Estado.
E) incentivar a expansão da propaganda e do consumo de artigos esportivos.
A confusão era grande e ficou ainda maior depois do discurso do presidente norte-americano Barack Obama em defesa da guerra, ao receber o Prêmio Nobel da Paz de 2009. Como liberal, Obama poderia ter utilizado os argumentos do filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), que também defendeu, na sua época, a legitimidade das guerras como meio de difusão da civilização européia.
FIORI, J. L. A moral internacional e o poder. Revista CULT. N° 145. São Paulo: Bregantini, abr. 2010.
O argumento utilizado por Barack Obama ao defender a guerra em nome da paz constitui um tipo de raciocínio
A) indutivo.
B) dedutivo.
C) paradoxal.
D) metafórico.
E) analógico.
A Unesco define como Patrimônio Cultural Imaterial “as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas — junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são associados — que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural.” São exemplos de bens registrados como Patrimônio Imaterial no Brasil: o Círio de Nazaré no Pará, o Samba de Roda do Recôncavo Baiano, o Ofício das Baianas de Acarajé, o Jongo no Sudeste, entre outros.
Disponível em: http://www.portal.iphan.gov.br. Acesso em: 29 jul. 2010 (adaptado).
É bastante recente no Brasil o registro de determinadas manifestações culturais como integrantes de seu Patrimônio Cultural Imaterial. O objetivo de se realizar e divulgar este tipo de registro é
A) reconhecer o valor da cultura popular para torná-la equivalente à cultura erudita.
B) recuperar as características originais das manifestações culturais dos povos nativos do Brasil.
C) promover o respeito à diversidade cultural por meio da valorização das manifestações populares.
D) possibilitar a absorção das manifestações culturais populares pela cultura nacional brasileira.
E) inserir as manifestações populares no mercado, proporcionando retorno financeiro a seus produtores.
Subjaz na propaganda tanto política quanto comercial a ideia de que as massas podem ser conquistadas, dominadas e conduzidas, e, por isso, toda e qualquer propaganda tem um traço de coerção. Nesse sentido, a filósofa Hanna Arendt diz que “não apenas a propaganda política, mas toda a moderna publicidade de massa contém um elemento de coerção”.
AGUIAR, O. A. Veracidade e propaganda em Hannah Arendt. In: Cadernos de Ética e Filosofia Política 10. São Paulo: EdUSP, 2007 (adaptado).
À luz do texto, qual a implicação da publicidade de massa para a democracia contemporânea?
A) O fortalecimento da sociedade civil.
B) A transparência política das ações do Estado.
C) A dissociação entre os domínios retóricos e a política.
D) O combate às práticas de distorção de informações.
E) O declínio do debate político na esfera pública.
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