Você pode não acred...

Você pode não acreditar       Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os leiteiros deixavam as garrafin...

INEP - Português - 2016 - Exame Nacional do Ensino Médio - Primeiro e Segundo Dia

                          Você pode não acreditar

      Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os leiteiros deixavam as garrafinhas de leite do lado de fora das casas, seja ao pé da porta, seja na janela.

      A gente ia de uniforme azul e branco para o grupo, de manhãzinha, passava pelas casas e não ocorria que alguém pudesse roubar aquilo.

      Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que os padeiros deixavam o pão na soleira da porta ou na janela que dava para a rua. A gente passava e via aquilo como uma coisa normal.

      Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que você saía à noite para namorar e voltava andando pelas ruas da cidade, caminhando displicentemente, sentindo cheiro de jasmim e de alecrim, sem olhar para trás, sem temer as sombras.

      Você pode não acreditar: houve um tempo em que as pessoas se visitavam airosamente. Chegavam no meio da tarde ou à noite, contavam casos, tomavam café, falavam da saúde, tricotavam sobre a vida alheia e voltavam de bonde às suas casas.

      Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que o namorado primeiro ficava andando com a moça numa rua perto da casa dela, depois passava a namorar no portão, depois tinha ingresso na sala da família. Era sinal de que já estava praticamente noivo e seguro.

      Houve um tempo em que havia tempo.

      Houve um tempo.

                           SANT’ANNA, A. R. Estado de Minas, 5 maio 2013 (fragmento).

Nessa crônica, a repetição do trecho “Você pode não acreditar: mas houve um tempo em que...” configura-se como uma estratégia argumentativa que visa

A) surpreender o leitor com a descrição do que as pessoas faziam durante o seu tempo livre antigamente.
B) sensibilizar o leitor sobre o modo como as pessoas se relacionavam entre si num tempo mais aprazível.
C) advertir o leitor mais jovem sobre o mau uso que se faz do tempo nos dias atuais.
D) incentivar o leitor a organizar melhor o seu tempo sem deixar de ser nostálgico.
E) convencer o leitor sobre a veracidade de fatos relativos à vida no passado.

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