Todo bom escritor tem o seu instante de graça, possui a sua obra-prima, aquela que congrega numa estrutura perfeita os seus dons mais pessoais. Para Dias Gome...
Todo bom escritor tem o seu instante de graça, possui a sua obra-prima, aquela que congrega numa estrutura perfeita os seus dons mais pessoais. Para Dias Gomes essa hora de inspiração veio-lhe no dia que escreveu O pagador de promessas. Em torno de Zé-do-Burro — herói ideal, por unir o máximo de caráter ao mínimo de inteligência, naquela zona fronteiriça entre o idiota e o santo — o enredo espalha a malícia e a maldade de uma capital como Salvador, mitificada pela música popular e pela literatura, na qual o explorador de mulheres se chama inevitavelmente Bonitão, o poeta popular, Dedé Cospe-Rima, e o mestre de capoeira, Manuelzinho Sua Mãe. O colorido do quadro contrasta fortemente com a simplicidade da ação, que caminha numa linha reta da chegada de Zé-do-Burro à sua entrada trágica e triunfal na igreja — não sob a cruz, conforme prometera, mas sobre ela, carregado pelos capoeiras, “como um crucifixado”.
PRADO, D. A. O teatro brasileiro moderno. Sao Paulo: Perspectiva, 2008 (fragmento).
A avaliação crítica de Décio de Almeida Prado destaca as qualidades de O pagador de promessas. Com base nas ideias defendidas por ele, uma boa obra teatral deve
A) valorizar a cultura local como base da estrutura estética.
B) ressaltar o lugar do oprimido por uma forma religiosa.
C) dialogar a tradição local com elementos universais.
D) romper com a estrutura clássica da encenação.
E) reproduzir abordagens trágicas e pessimistas.
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