Sem acessórios nem som Escrever só para me livrar de e...

Sem acessórios nem som Escrever só para me livrar de escrever. Escrever sem ver, com riscos sentindo falta dos acompanhamentos com as mesmas lesmas e...

INEP - Português - 2016 - Exame Nacional do Ensino Médio - Primeiro e Segundo Dia

Sem acessórios nem som

Escrever só para me livrar

de escrever.

Escrever sem ver, com riscos

sentindo falta dos acompanhamentos

com as mesmas lesmas

e figuras sem força de expressão.

Mas tudo desafina:

o pensamento pesa

tanto quanto o corpo

enquanto corto os conectivos

corto as palavras rentes

com tesoura de jardim

cega e bruta

com facão de mato.

Mas a marca deste corte

tem que ficar

nas palavras que sobraram.

Qualquer coisa do que desapareceu

continuou nas margens, nos talos

no atalho aberto a talhe de foice

no caminho de rato.

FREITAS FILHO, A. Máquina de escrever: poesia reunida e revista. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.

Nesse texto, a reflexão sobre o processo criativo aponta para uma concepção de atividade poética que põe em evidência o(a)

A) angustiante necessidade de produção, presente em “Escrever só para me livrar/ de escrever”.
B) imprevisível percurso da composição, presente em “no atalho aberto a talhe de foice/ no caminho de rato”.
C) agressivo trabalho de supressão, presente em “corto as palavras rentes/ com tesoura dejardim/ cega e bruta”.
D) inevitável frustração diante do poema, presente em “Mas tudo desafina:/ o pensamento pesa/ tanto quanto o corpo”.
E) conflituosa relação com a inspiração, presente em “sentindo falta dos acompanhamentos/ e figuras sem força de expressão”.

A B C D E

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