Anoitecer A Dolores É a hora em que o sino toca, mas aqui não há sinos; há somente buzinas, sirenes roucas,...
Anoitecer
A Dolores
É a hora em que o sino toca,
mas aqui não há sinos;
há somente buzinas,
sirenes roucas,
apitos aflitos, pungentes, trágicos,
uivando escuro segredo;
desta hora tenho medo.
[...]
É a hora do descanso,
mas o descanso vem tarde,
o corpo não pede sono,
depois de tanto rodar;
pede paz — morte — mergulho
no poço mais ermo e quedo;
desta hora tenho medo.
Hora de delicadeza,
agasalho, sombra, silêncio.
Haverá disso no mundo?
É antes a hora dos corvos,
bicando em mim, meu passado,
meu futuro, meu degredo;
desta hora, sim, tenho medo.
ANDRADE, C. D. A rosa do povo. Rio de Janeiro: Record, 2005 (fragmento).
>A) defesa da esperança como forma de superação das atrocidades da guerra.
B) desejo de resistência às formas de opressão e medo produzidas pela guerra.
C) olhar pessimista das instituições humanas e sociais submetidas ao conflito armado.
D) exortação à solidariedade para a reconstrução dos espaços urbanos bombardeados.
E) espírito de contestação capaz de subverter a condição de vítima dos povos afetados.
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